Como nascem as tendências de moda?

A moda é um fenômeno cíclico, que se renova constantemente e influencia como as pessoas se vestem, pensam e se comportam. Mas você já se perguntou como nascem as tendências de moda? O que faz uma cor, um tecido, uma estética ou uma peça de roupa se tornar um hit instantâneo?

Neste artigo, vamos explicar como surgem as tendências de moda, explorar o estudo de previsão de tendências, além de abordar o peso que a moda de rua, a internet e a creator economy têm sobre as passarelas (e vice-versa). Vamos lá?!

Como funciona o estudo de previsão de tendências de moda?

O estudo de previsão de tendências de moda é baseado em dados e pesquisas bem estruturadas para definir quais características, modelagens e cores serão os highlights das próximas temporadas. 

Essa investigação é conduzida por cool hunters (profissionais que pesquisam tendências e identificam mudanças no comportamento das pessoas) e empresas especializadas em moda, a exemplo de WGSN e Fashion Snoops, que analisam as principais tendências do momento, avaliam os perfis de consumo e utilizam métodos quantitativos e qualitativos para identificar o que vai despontar nos meses seguintes.

O estudo é um trabalho de equipe, que envolve designers, estilistas, trend scouts (caçadores de tendências), especialistas em marketing e profissionais da área de pesquisa de tendências, que combinam dados com análises subjetivas para chegar a conclusões mais precisas e assertivas possíveis sobre o que estará em alta em breve. 

Digital, algoritmos, TikTok e IA

Com a força do digital, das redes sociais, dos algoritmos e do aprendizado de máquina, prever tendências se tornou “mais fácil”. E aí vemos um novo personagem emergindo: o cientista de dados. Ao lado dos profissionais de marketing, que têm visão de negócios e contatos no segmento fashion, a forma como é feita cada pesquisa de tendências de moda ganhou um novo ingrediente: as novas fontes de informação, que, agora, ajudam a dizer o que estará em alta nos próximos meses (ou semanas). 

Essas novas fontes surgiram, também, a partir da creator economy. Criadores de conteúdo e influenciadores usam o TikTok, especialmente, para compartilhar suas previsões de tendências em vídeos curtos. Na rede, vimos a viralização de estéticas (core), como normcore, barbiecore e cottagecore — que nem sempre são, de fato, uma novidade — e por aí vai. 

Podemos entender essas estéticas, disseminadas pelo TikTok, como microtendências: ciclos ultra-rápidos que ganham muita atenção em um período curto e logo perdem relevância, com a mesma rapidez.

Ferramentas de Inteligência Artificial (IA) também podem ser incorporadas ao estudo de predição de tendências de moda. Uma das vantagens do uso de IA nesse contexto é a capacidade de processar grandes volumes de dados em tempo real.

Com a enorme quantidade de informações disponíveis em redes sociais, blogs, sites de moda e outros canais online, seria praticamente impossível para um ser humano interpretar esses dados de forma eficiente e no curto prazo. A IA pode realizar essa análise em larga escala, identificando tendências emergentes e padrões de comportamento de consumo.

Outra aplicação da IA no estudo de tendências é a análise de imagens. Com o uso de algoritmos de visão computacional, é possível identificar elementos visuais em fotos e vídeos, como estilos de roupas, cores, estampas e até mesmo o contexto em que essas imagens foram capturadas. Isso permite que os profissionais de moda tenham uma compreensão mais abrangente das tendências que estão se destacando.

É importante ressaltar, entretanto, que a IA deve ser vista como uma ferramenta complementar aos profissionais da área, e não como substituta. A criatividade e a intuição humana continuam sendo elementos fundamentais na indústria da moda.

A IA pode fornecer insights valiosos e agilizar o processo de previsão de tendências, mas cabe a estilistas, designers e profissionais do setor interpretar essas informações e transformá-las em criações originais e impactantes.

O mercado de previsão de tendências está menos especulativo e mais baseado em dados, criatividade e observações, com consultorias especializadas oferecendo o serviço para marcas e fabricantes. 

Como nascem as tendências de moda?

O nascimento de uma tendência de moda é um processo complexo que envolve desde fatores culturais até aspectos sociais, econômicos e políticos. 

A moda de rua (street style) exerce grande influência sobre as tendências. São os jovens e as pessoas comuns, com seus diferentes estilos, que ajudam a determinar o que vai ser moda na próxima estação. As ruas são como uma vitrine, onde a moda é apresentada de forma inclusiva e democrática. 

Além disso, a moda das ruas reflete os tempos e a sociedade, atuando como uma fonte de inspiração para as tendências. Embora seja uma importante influência, o street style não é a única referência. Designers, celebridades, redes sociais e a mídia desempenham papel significativo na criação e na disseminação das tendências. Juntos, esses diversos elementos ajudam a moldar o cenário da moda atual.

O street style é inspirado no estilo de vida das pessoas, em suas necessidades e preferências; e designers, estilistas e indústrias da moda utilizam essas referências para criar as coleções. Muitas trends que nasceram nas ruas foram se transformando até se tornarem hits nas passarelas.

As tendências também nascem no digital, com a creator economy. Os criadores de conteúdo  criam e as disseminam para milhões de seguidores, influenciando diretamente o comportamento de consumo e ditando o que está em alta.

Qual o ciclo de vida de uma tendência?

Embora o ciclo de vida de uma tendência esteja acelerado pela internet e pelas redes sociais, ainda conseguimos identificar as cinco fases clássicas entre o nascimento e o declínio de uma trend, embora com algumas modificações.

1. Introdução

O primeiro estágio é quando uma nova tendência é apresentada. Essa fase geralmente ocorre quando grandes marcas e designers revelam suas criações. Também pode ser introduzida por figuras públicas consideradas formadoras de opinião.

Aqui, a tendência ainda não é amplamente conhecida. Muitas vezes, a visibilidade da novidade se limita a um público muito nichado. E quando está disponível, é normalmente muito cara e acessível somente a pessoas de alto poder aquisitivo. 

Exemplo #1: o “verde Bottega”, da grife Bottega Veneta, na coleção primavera/verão 2021. A cor explodiu mundo afora. 

Exemplo #2: a tendência Y2K, com peças que representam os anos 2000, como a calça de cintura baixa, a saia longa, as sapatilhas e a calça cargo. O revival foi abraçado pelos consumidores (Gen Z, principalmente) e pelo mercado mundial.

2. Ascenção

Aqui, a tendência começa a se popularizar. Celebridades e influenciadores frequentemente são responsáveis ​​por impulsionar essa fase, já que podem ser vistos usando a novidade em eventos ou nas redes sociais.

A mídia também pode desempenhar papel importante na popularização da tendência, promovendo-a em editoriais e em matérias especiais. Nessa fase, a tendência começa a ficar mais acessível ao público em geral, com a disponibilidade em maior quantidade de varejistas.

3. Pico

No terceiro estágio, a tendência atinge o auge da popularidade e está amplamente disponível em várias lojas e existe em muitas variações.

Neste momento, as grandes marcas e os designers já seguem para novas tendências, enquanto as lojas mais acessíveis continuam a oferecê-las para atender à demanda do consumidor.

4. Declínio

A tendência começa a perder popularidade, muitas vezes devido à saturação do mercado. Muitos consumidores podem achar que a peça ou a cor se tornou muito comum e perdem o interesse ou começam a procurar algo novo. 

5. Obsolescência 

Nesta fase, a tendência é vista como sendo de outra época, e os consumidores mudam o foco para algo mais atual. 

Como a moda é cíclica, algumas tendências passadas podem ser revividas anos depois, sendo reinterpretadas dentro do contexto do momento.

É importante dizer que, além desse ciclo de vida estar bem mais curto hoje — antes, falava-se em um ciclo de 20 anos, hoje, às vezes, não chega a seis meses —, nem todas as tendências seguirão este padrão. 

O TikTok tem papel central na produção em massa de microtendências (e microestéticas), que por vezes desaparecem antes mesmo de chegarem às araras das lojas ou precisam passar por ajustes para serem adotadas comercialmente. 

Ainda temos os produtos virais, que resultam em vendas praticamente instantâneas e, muitas vezes, de produtos polêmicos, como as Tabi boots. O calçado da Maison Margiela, embora seja conhecido há muito tempo por uma fatia de consumidores, ganhou popularidade no TikTok, quando foi apresentado a um novo público, e vive esgotado.  

Diante desse ciclo de vida frenético das tendências de moda, nunca foi tão importante para as marcas compreender o papel que as trends desempenham nas suas estratégias de negócios e como aproveitá-las para chegar aos consumidores da Geração Z.

O outro lado da viralização das tendências de moda é o impacto ambiental negativo, uma vez que a pressão para estar sempre atualizado com as últimas novidades pode ser esmagadora para os consumidores e até mesmo para as próprias marcas. As consequências? Maior produção e descarte de roupas.

As tendências de moda refletem aspectos socioculturais, tecnológicos e econômicos que moldam a sociedade como um todo. O estudo de previsão desvenda os segredos por trás de como nascem as tendências, enquanto a moda de rua e a creator economy desempenham um papel crucial na sua formação. 

A moda está em constante evolução, e entender como as tendências são criadas nos permite estar sempre atualizados e participar ativamente desse cenário vibrante e criativo.

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